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Mesmo com as novas linhas de crédito que surgiram na pandemia e a queda nas taxas de juros, pegar um empréstimo pode não ser a melhor alternativa para algumas empresas.
“Se o meu negócio não está nem se pagando, por que vou buscar dinheiro no mercado e me endividar ainda mais?”, questiona o educador financeiro Reinaldo Domingos.
De acordo com o professor do Insper Michael Viriato, o recurso só deve ser usado quando a companhia ao qual se destina o crédito proporcionar retorno superior ao da taxa de juros.
“Por exemplo, se o empreendedor calcular que investir na ampliação da empresa vai lhe garantir um retorno de 15% ao ano e o empréstimo para o projeto vai ter taxa de 10% ao ano, vale a pena buscar crédito no mercado”, explica o professor.
O consultor do Sebrae-SP Felipe Chiconato considera que antes de ir atrás de dinheiro é preciso saber onde está o problema. Ele cita o caso de uma empresa que tinha um faturamento médio mensal de R$ 2,3 milhões e prejuízo de R$ 140 mil. Os executivos acreditavam que o problema estava no capital de giro.
“Avaliando a operação, percebi que o erro estava na política de preço e de comissões. Em dois meses, a empresa passou a ter lucro mensal de R$ 300 mil”, afirma. “O caixa negativo não é um problema por si só, mas um sintoma, que precisa ser investigado”, complementa.
Normalmente, são três os motivos que tornam o caixa negativo: vender a prazo e comprar à vista, fazer investimentos no negócio e contrair despesas maiores que as receitas —ou seja, ter prejuízo.
“Quando o caixa negativo é oriundo de prejuízo acumulado, colocar dinheiro na operação só vai piorar o problema”, diz Chiconato.
Buscar recursos no mercado para despesas recorrentes pode colocar a empresa em uma bola de neve.
“Despesa tem que ser paga com a receita. Se está precisando buscar recursos para isso, é sinal de que faltou planejamento”, diz Viriato.
Apesar de existirem muitas linhas de crédito para capital de giro e até para folha de pagamento, especialistas não consideram uma boa decisão.
De acordo com Nice Casimiro, da Outbox Consulting do Brasil, empresa especializada em consultoria financeira, solicitar crédito sem a devida restruturação dos processos leva a companhia a um círculo vicioso, devido à necessidade crescente de capital para bancar a operação.
Leandro Molina, diretor-executivo da Consiga+, destaca as situações nas quais não é aconselhável pedir empréstimo, entre elas quando a empresa não tem uma perspectiva clara do retorno sobre o investimento e quando a ideia é financiar dívidas ou resolver problemas da vida do dono da empresa, misturando CNPJ e CPF.
"O empresário precisa ser bem racional e optar por um ‘stop loss’ [venda para evitar maiores perdas] caso o negócio se torne inviável por erros do passado ou por mudanças de mercado. Também não se deve sacrificar a companhia para salvar as contas pessoais”, afirma Molina.
A antecipação de recebíveis, modalidade que tem ganhado força entre muitos empresários, também não é considerada uma boa alternativa por especialistas.
Com a antecipação, o empreendedor recebe em poucos dias valores que só entrariam 30 dias depois ou parcelados no cartão de crédito.
Apesar de não ser um empréstimo, afinal ele está antecipando um recurso que é dele, essa modalidade também tem taxas de juros que normalmente não foram calculadas no custo do produto.
Em todos os casos, é importante avaliar se empresa tem possibilidade real de honrar com os pagamentos.
“Mais do que a taxa de juros empregada num empréstimo, a falta de pagamento das parcelas é que causa um estrangulamento financeiro e possivelmente leva a recuperação judicial ou falência”, alerta o consultor em finanças Marcelo Tommasi.
Natalia Lazarini, cofundadora da Confraria do Empreendedor, sugere que antes de pegar empréstimo, o empresário deve tentar se reinventar, agregando mais produtos e serviços ao seu portfólio.
O ideal mesmo é tentar montar uma reserva de emergência para não precisar recorrer a crédito em momento de crise. Destinar parte do faturamento para esse fim é a melhor opção, de acordo com os especialistas.
Assim, quando situações difíceis ocorrerem, o empresário tem um fôlego para atravessar esse momento.
Mas, se o empreendedor já chegou no momento de dificuldade, o primeiro passo deve ser cortar gastos.
“Às vezes, só com essa medida o caixa já ganha um fôlego sem precisar de um empréstimo”, diz Domingos.
Além disso, se o dinheiro for para pagar fornecedores, é melhor tentar negociar diretamente com eles, que muitas vezes podem oferecer condições melhores e sem a cobrança de juros.
“O importante é que a pessoa saiba exatamente quanto é o seu faturamento e tudo o que ela tem para pagar”, explica Domingos.
Se mesmo fazendo todas essas contas o empréstimo for inevitável, a dica é pesquisar as taxas no mercado.
“Com a queda da Selic, os juros do crédito também diminuíram, então agora o empreendedor tem condições de negociar melhores taxas com a sua instituição financeira”, afirma Domingos.