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Apenas uma em cada quatro empresas sobrevive por mais de dez anos

Fonte: O Globo
23/10/2020
Gestão

Manter uma empresa de pé no Brasil é uma missão para poucos. Levantamento feito pelo IBGE revela que apenas um em cada quatro negócios inaugurados em 2008 conseguiram chegar em 2018 com as portas abertas. Com a pandemia, a situação tende a se agravar.

De acordo com a pesquisa, a economia brasileira registrou, em 2008, a abertura de 612.954 empresas. Passados dez anos, apenas 25,3% continuavam em operação.

— As empresas estão sendo afetadas porque a economia está ruim. O Brasil tem crescido pouco nos últimos anos, e a tendência é que agora, com a pandemia, a situação fique ainda mais grave — avalia Vicente Ferreira, professor do Coppead e diretor do Parque Tecnológico da UFRJ. — Estamos olhando pelo retrovisor os dados de 2018. O quadro real que temos atualmente é muito mais grave.

A taxa de sobrevivência das empresas cai à medida que o tempo passa. Ao fim do primeiro ano de funcionamento, 81,5% ainda estão operando. Cinco anos depois, mais da metade já encerrou suas atividades.

A pesquisa mostra que o saldo entre abertura e fechamento de empresas nos últimos cinco anos é negativo. Somente em 2018, por exemplo, essa diferença ficou em 65,9 mil.

— Um mercado saudável deve ter mais empresas entrando do que saindo. Não é o que o número do IBGE mostra. Mas tem empreendedores que abrem vários negócios até prosperarem. É um aprendizado. Para ajudar as empresas, é preciso melhorar o ambiente de negócios e investir em capacitação — recomenda Marco Bedê, analista em gestão estratégica do Sebrae.

Baixa qualificação pesa

O engenheiro de produção Thiago Rocha, de 26 anos, conhece bem a realidade do abre-fecha de negócios. Aos 18 anos, criou um e-commerce para vender roupas na faculdade. Sem noções de administração e marketing, o negócio não foi para frente.

Em 2018, ele se tornou franqueado de uma barbearia na Tijuca, Zona Norte do Rio. O negócio com a marca foi desfeito, mas ele seguiu sozinho. Com o início da crise provocada pela pandemia da Covid-19, acabou fechando:

— Como eu tinha de arcar com tudo, e com a pandemia afetando o movimento, fechei as portas em março — conta Rocha, que em julho, em parceria com amigos, reabriu seu negócio.

A atividade econômica do país também é fator determinante para a sobrevivência das empresas, explica Thiego Gonçalves Ferreira, gerente do estudo feito pelo IBGE:

— Só em 2014, 218 mil empresas fecharam as portas — lembra Ferreira, ao citar o ano em que o país entrou em recessão.

O levantamento do IBGE não inclui na conta os microempreendedores individuais (MEIs). Especialistas lembram que, em cenário de crise, a tendência é aumento no número de empreendedores por necessidade.

— Com a crise econômica, o número de pessoas que empreende por necessidade vem crescendo. Elas já são cerca de 60% do total. Com baixa qualificação e dificuldade em ter capital de giro, puxam um problema crônico em fechamento de negócios — explica Rubens Massa, professor do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV. — Na pandemia, esse movimento se intensificou. Então, no médio prazo, a mortalidade tende a subir.

O aumento de microempreendedores, sublinha ele, reflete diretamente a piora das condições do mercado de trabalho. E a gestão pouco profissionalizada da maioria dos negócios acaba colaborando para o fechamento de empresas.

Impulso da necessidade

O brasileiro de forma geral, pondera Massa, aprendeu a lidar com incertezas e situações de risco. Por isso, na média, empreende mais que pessoas em países de perfil similar ao do Brasil. Nesses pares, conta, como o volume de empresas abertas está mais concentrado em negócios puxados pela oportunidade, em vez de pela necessidade, a mortalidade tende a ser mais baixa.

O relatório do Global Entrepreneurship Monitor Brasil de 2019, produzido pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP) e pelo Sebrae, mostra que, no ano passado, 88,4% dos empreendedores iniciais afirmaram que a escassez de emprego constituiu uma das razões para começar um negócio.

É a nona maior taxa dentre os 50 países avaliados na pesquisa, que traz à frente Marrocos (93,3%), Jordânia (93,1%) e Paquistão (92,1%).

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