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O trabalho virtual – com todas as suas vantagens e desvantagens — não é algo novo. Mas a adesão a esse modelo cresceu vertiginosamente em 2020. Agora, muitas pessoas não desejam mais voltar ao presencial. Isso não significa que elas não possam manter seu comprometimento e sua produtividade de casa – desde que estejam sob a batuta de uma liderança virtual inteligente. Exercer essa liderança deve se tornar uma prioridade para as empresas.
O que sabemos sobre liderança virtual? Muito pouco ainda. Mas pesquisas recentes têm lançado algumas luzes sobre o assunto. Sabemos, por exemplo, que trabalhar virtualmente torna os funcionários mais focados nas tarefas, porque são eliminadas as interações informais que promovem os relacionamentos interpessoais no ambiente empresarial. Nada de bate-papos antes e depois das reuniões, nada de conversas no corredor, nada de atividades sociais após o expediente.
Mas justamente porque sentem uma perda de controle nesse formato, os líderes têm se tornado mais diretivos no trabalho remoto. É difícil acompanhar o trabalho dos funcionários quando eles estão em suas próprias casas. E, para compensar essa dificuldade, os líderes às vezes exageram em fornecer estrutura e instruções, como forma de monitorar e controlar seus funcionários.
Paradoxalmente, essa abordagem mais diretiva é o exato oposto do que é necessário para uma liderança virtual eficaz. Em vez disso, pesquisas sugerem que o mais importante para os líderes virtuais é capacitar os funcionários e promover a autoliderança. Embora os líderes certamente precisem fornecer estrutura e direção, eles também precisam aprender a abrir mão do controle.
Esse foi o resultado de um estudo recente que examinou 3.909 equipes em uma ampla variedade de funções. Os resultados mostraram que a liderança participativa, capacitadora e focada no relacionamento é mais eficaz para manter o desempenho da equipe virtual do que aquela velha liderança focada nas tarefas (diretiva, controladora), especialmente em equipes maiores, onde é mais difícil “ver” o que os membros da equipe estão fazendo. Por quê? Porque a liderança focada no relacionamento supera alguns dos desafios de trabalhar virtualmente e aproveita os benefícios dessa conjuntura.
NAVEGANDO PELOS BENEFÍCIOS E DESAFIOS DO TRABALHO VIRTUAL
-Falta de visibilidade da situação de trabalho dos membros da equipe
No escritório, os líderes podem visualizar claramente o progresso e fornecer feedback imediato por meio de comunicação direta. Isso é mais desafiador por meio de uma tela. Portanto, em vez de ser excessivamente diretivo, os líderes devem criar condições em que os funcionários se sintam capacitados para concluir seu trabalho, agir no melhor interesse da equipe e tomar decisões sobre seu trabalho.
-Ameaças ao compromisso e à confiança da equipe
Construir o compromisso, a confiança e o apoio mútuo da equipe virtualmente é um desafio. Ao focar em atividades voltadas para o relacionamento, os líderes promovem um senso coletivo de propósito e um ambiente positivo.
-Sentimentos de isolamento
O trabalho virtual aumenta a sensação de isolamento. Isso torna mais importante apoiar e abordar as preocupações dos membros da equipe.
-Benefícios da autonomia
O trabalho virtual confere autonomia, e os funcionários apreciam escolher quando, onde e como concluir seu trabalho. Isso aumenta a motivação e o bem-estar. Ser excessivamente controlador mina esse senso de autonomia fortalecedor.
APRIMORANDO A LIDERANÇA VIRTUAL
Com base em nossa experiência em conversas com líderes com funcionários virtuais em diferentes contextos de trabalho e em pesquisas nessa área, sugerimos cinco práticas recomendadas de liderança para nos tornarmos mais focados no relacionamento.
1- Delegue e capacite sua equipe: aceite que um líder virtual não conseguirá fazer microgerenciamento. É hora de delegar pequenas decisões aos membros da equipe e capacitá-los a gerenciar seu próprio desempenho. Estudos mostram que os líderes de equipe temem se tornar dispensáveis e subestimam a capacidade dos membros da equipe de liderar quando necessário. Mas isso prejudica a eficácia da equipe virtual. Ao delegar, você sinaliza que confia na competência dos membros da equipe, o que promove relacionamentos mais fortes e inspira confiança.
2- Verifique se tudo vai bem, mas não microgerencie: os membros da equipe precisam saber que você se preocupa com o bem-estar deles e que está presente para apoiá-los. Portanto, verifique regularmente como tudo está caminhando e incentive os membros da equipe a manter todos informados sobre suas atividades e sobre quaisquer desafios. Isso promove um ambiente de confiança, de compromisso e de forte identidade de equipe. O objetivo é enviar a mensagem de que você deseja ajudar, não a de que está microgerenciando.
3- Concentre-se nos resultados, e não tanto em como as coisas são feitas: avalie os funcionários considerando os resultados dos trabalhos, em vez de como, quando e de onde eles produzem esses resultados. Vale lembrar que os colaboradores valorizam a autonomia que o trabalho virtual proporciona, pois ele lhes confere enorme flexibilidade para conciliar a vida pessoal e profissional. Confie na sua equipe para trabalhar da maneira preferida – desde que atinjam os resultados desejados. Viktor E. Frankl, um sobrevivente do Holocausto e autor de Man’s Search for Meaning, certa vez recomendou que a Estátua da Liberdade fosse complementada por uma “Estátua da Responsabilidade”. Os funcionários devem responder à liberdade que você concede com a responsabilidade que você espera.
4- Dê permissão às pessoas para falar e para procurar orientação (se necessário): Jordi Cruz, o segundo chef de cozinha mais jovem do mundo a ganhar uma estrela Michelin, é considerado atualmente um dos melhores chefs do mundo. Como juiz da versão em espanhol do programa de televisão MasterChef, ele compartilhou que um aprendiz, Alberto, observou: “Chef, posso te dizer uma coisa? Você tem sido um pouco grosseiro ultimamente.” Evidentemente, Cruz não ficou lisonjeado, mas esse comentário o fez refletir: “Se esse cara, que me admira, ousou dizer isso, é porque teve algum motivo”. Cruz afirmou que a criação de espaço para os membros da equipe falarem e, se necessário, chamá-lo para fazer críticas o manteve com o pé no chão e o ajudou a ganhar as estrelas do Michelin. Esse comportamento é ainda mais necessário em ambientes virtuais, onde as pessoas oferecem feedback com menos rapidez. E ele pode simplesmente não acontecer, a menos que os líderes façam um esforço especial para solicitar esse feedback. Ou seja: a menos que se cerquem de “Albertos”, que mantenham a honestidade e sejam recompensados por esse comportamento – Alberto, por exemplo, é agora o chef principal do Angle, o restaurante de Cruz que ganhou 2 estrelas Michelin.
5- Supere seu desejo de controle: é claro que nenhuma dessas melhores práticas é possível se os líderes não abrirem mão de seu desejo de controle. Se for difícil desapegar do controle, reserve um tempo para refletir sobre si mesmo. Por que microgerenciar e sufocar os funcionários? Por que ficar verificando se os membros da equipe estão conectados? (Sim, estamos falando sobre aquela luzinha verde no bate-papo, que fica vermelha durante as reuniões e amarela quando o subordinado sai do computador.) Os funcionários sabem quando os líderes estão acompanhando seus passos por preocupação genuína e quando estão usando esse monitoramento como um meio de controle.
Liderar virtualmente requer uma mão de veludo, e não um punho de ferro. É perfeitamente compreensível que líderes que gostam do contato diário cara a cara, com todo o acompanhamento e direcionamento que isso permite, anseiem pelo controle que perderam. No entanto, essas preocupações não são bem fundamentadas, uma vez que pesquisas mostram que os funcionários podem ser igualmente (se não mais) produtivos trabalhando remotamente. Houve mudanças radicais com a pandemia. E grande parte delas não têm volta. Há um longo e lento caminho para ajustarmo-nos às novas atitudes e dinâmicas de trabalho. Mas, desde que haja empatia e respeito, vamos percorrê-lo com sucesso.