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Enquanto empresários não conseguem tomar empréstimos em bancos e o governo admite que os programas de crédito não estão chegando na ponta, as cooperativas aumentaram a concessão de recursos para pequenas e médias empresas durante a crise.
Segundo as estatísticas do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) do segundo bimestre deste ano, obtidas pelo GLOBO, o crédito ofertado por esse tipo de instituição para pequenas empresas aumentou 30% na comparação com 2019. O período reflete o primeiro choque econômico da crise causada pela pandemia do coronavírus.
O crescimento foi visto em empresas de todos os portes. Para as médias, o aumento foi de 44%. A concessão para as microempresas cresceu 17,7%, enquanto as grandes registraram o maior aumento, de 81%.
O presidente do Bancoob, que cuida da parte operacional do Sicoob, Marco Aurélio Almada, afirmou que as cooperativas têm mais apetite para o risco. Em situações de crise como a atual, os bancos tradicionais tendem a se expor menos ao risco de calote dos empréstimos e financiamentos.
— Há uma estratégia deliberada de minimizar os efeitos da crise para o cooperado naquilo que for possível e isso gera o efeito natural de crescimento — disse.
Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), explica que as cooperativas têm mais interesse em continuar concedendo crédito durante a crise do que os grandes bancos.
Ribeiro disse que a estrutura das cooperativas, em que as empresas que tomam empréstimos também são sócios, aumenta o interesse mútuo no auxílio aos cooperados.
— A cooperativa está protegendo seus filiados, então ela empresta porque conhece o negócio. Vai emprestar para uma empresa que é sócia da cooperativa e tem interesse também porque é uma forma de salvar a empresa que faz parte do ramo dela — disse.
Bancos evitam risco
Uma pesquisa do Sebrae divulgada no início do mês mostrou que esse cenário de dificuldade de tomar empréstimos é ainda maior para pequenos empresários que buscam crédito em bancos. Segundo o levantamento, a maior parte desses empresários buscou crédito nos bancos públicos, mas essas instituições são as que têm a menor taxa de sucesso. Apenas 9% dos que tentam, conseguem tomar o empréstimo.
A situação é inversa para as cooperativas. Embora sejam as instituições menos demandadas, a taxa de sucesso é de 31%, mais de três vezes maior do que em bancos públicos.
O presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Conampe), Ercílio Santinoni, disse que as cooperativas são mais “acolhedoras” para os empresários. A dificuldade é que o escopo de atuação é restrito, então o crédito flui somente para os associados. Dessa maneira, apesar da maior facilidade na tomada, ele chega a menos pessoas.
— As cooperativas são mais restritas, mas atendem muito bem aqueles que nos bons tempos cooperaram. O sistema de cooperativa é uma das boas opções, sem dúvida.
Crédito para folha de pagamento
Com o cenário de crise para as empresas e a resistência dos bancos em fazer empréstimos, membros da equipe econômica já admitiram que o crédito não está chegando para as empresas que precisam.
Lançado em abril, o primeiro programa voltado para pequenas e médias empresas foi o que disponibilizou R$ 40 bilhões em empréstimos para financiamento de salários. No entanto, a iniciativa não foi bem recebida pelas empresas, que reclamam das contrapartidas do plano, como a exigência de não demitir e a destinação exclusiva dos recursos para pagamento de salários, que seriam inviáveis no período de crise.
Essa situação se reflete nos valores de crédito concedidos. Segundo dados do Banco Central, o Bancoob concedeu apenas R$ 9 milhões para 391 empresas dentro do programa de financiamento da folha de pagamento.
Enquanto isso, no período de 16 de março até 21 de maio, o Sicoob concedeu R$ 4,4 bilhões em capital de giro para pequenas e médias empresas. As microempresas captaram R$ 745 milhões e a grandes, R$ 500 milhões.
Segundo o presidente do Bancoob, as empresas querem mais liberdade para usar os recursos.
— A burocracia, as limitações da linha (para folha de pagamento) e o fato dela resolver um problema só, faz com que aquele tomador prefira usar o dinheiro que chega na mão dele e ele escolhe o que faz com o dinheiro, ainda que custe um pouco mais.
Crise aumenta número de cooperados
O presidente do Bancoob diz que, em todas as crises, o sistema cooperativo de crédito cresceu. De acordo com ele, é um fenômeno natural, por conta de sua própria estrutura, as cooperativas fortalecem os instrumentos de crédito durante as crises e chamam a atenção de potenciais associados.
— A cooperativa precisa voltar-se pro grupo, entender o grupo, trabalhar os dados e operar com o grupo. Então esse é o detalhe, quando você olha o sistema Sicoob parece que é igual a um banco, mas não é. São 390 cooperativas, 390 grupos e cada grupo é olhado com a sua característica — disse.
Durante a pandemia, as cooperativas não têm crescido no número de associados. Almada estima entre 30 a 40 mil novos cooperados por mês. Segundo ele, as ações estão voltadas para empresas e pessoas que já faziam parte das cooperativas antes da crise.
No entanto, para o economista Miguel Ribeiro, o crescimento pode acontecer depois da crise. Ribeiro diz que as cooperativas tendem a proteger os seus cooperados e, por conta disso, podem atrair novos interessados.
— Em uma crise dessas, existem vários empresários que não estão nessas cooperativas, mas procuraram crédito e não conseguiram nos bancos. Isso pode levar ali na frente a que muitas dessas empresas que não eram cooperadas, possam pensar: “Bom, na hora que eu precisei não tive apoio dos bancos e concorrentes meus tiveram apoio da cooperativa, então vou me filiar”.