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A cena é clássica: basta acionar um botão que a casa fica arrumada, as roupas passadas, o café da manhã prontinho na mesa. A empregada-robô Rosie, do seriado Os Jetsons, sucesso da TV nos anos 80, passou de sonho de consumo para uma realidade muito próxima com o avanço da tecnologia.
Em meio a tanta praticidade advinda de aparelhos cada vez mais desenvolvidos, também surge a dúvida: teremos nossa força de trabalho humana engolida pelos bytes e processadores?
Calma! De acordo com especialistas da área de recursos humanos, não há motivo para desespero. Mas é preciso se adaptar às mudanças do mercado de trabalho. “Os novos tempos estão estimulando as pessoas a buscarem novas competências. O avanço da tecnologia é algo que não tem volta. Algumas profissões estão sumindo, outras vão surgir. É preciso que as pessoas estejam adaptadas para fazer parte da sociedade do conhecimento em que estamos”, analisa a psicóloga organizacional e consultora de gestão de pessoas, Gysele Rogo.
Em um tempo onde se valoriza o último lançamento, o gadget mais avançado, é preciso lembrar que o fator humano ainda é peça fundamental para o sucesso das empresas. “As pessoas são fundamentais para os negócios. A dinâmica de uma organização acontece a partir delas. Por isso falamos cada vez mais de busca por informação, transformada em conhecimento. As habilidades e competências aliadas à inteligência emocional e a capacidade de interagir e compartilhar fazem a diferença nas instituições”, aponta Gysele.
Para a gerente de recursos humanos e professora da Unifil, Adilseia Batista, nenhuma empresa, por mais avançada que seja na área tecnológica, sobrevive sem os diferenciais do fator humano. “Possuímos características que nos permitem ir além de uma simples junção de regras e fatores para chegar a uma resposta ou solução. Temos a capacidade de pensar além, de agir de forma intuitiva. Somos seres sociais de interação, que precisam de contatos, trocas. Nada substitui o poder do diálogo e do contato entre as pessoas”, compara.
Diante disso, o desafio das empresas passa a ser o de aliar as novas tecnologias que surgem a cada instante à capacitação de seus colaboradores.
Uma frase atribuída a Henry Ford, o americano que revolucionou a indústria automobilística na década de 1920, diz que só há uma coisa pior do que formar colaboradores e eles partirem: é não formá-los e eles permanecerem.
Investimento
Por isso, na visão de Gysele Rogo, preparar os funcionários não pode ser encarado pelas empresas como gasto, mas sim como investimento. “Se a empresa quiser ser competitiva, deve estar voltada cada cada vez mais a investir em desenvolvimento, treinamento e capacitação do colaborador como um todo, tanto tecnicamente quanto na área comportamental. A conjução de tecnologia de ponta com pessoas capazes de operar isso é o que coloca uma empresa à frente das outras. Aprendizado contínuo é a grande distinção de uma cultura organizacional. Mostra que a empresa está antenada”.
Para a consultora em gestão de pessoas, ter colaboradores defasados dentro da empresa em tempos de transformação tão rápida como a que vivemos se compara a ter uma Ferrari e não saber dirigir. “E o inverso também acontece. Podemos ter pessoas com potencial enorme, aptas a aprender e talentosas. Mas se estas pessoas não são estimuladas, desafiadas, a empresa não cresce. Tanto de um lado quanto do outro, demonstra um problema grave da empresa, uma dissonância entre o que se quer e o que está buscando”, completa.
Aprender faz parte da evolução do ser humano desde o início da vida. Bebês são estimulados a falar, andar. No início da vida escolar, as crianças aprendem a ler, escrever. “Aí você chega na faculdade, acha que aprendeu tudo e quando vai colocar na prática descobre que não aprendeu praticamente nada. Essa é uma das grandes lições da vida. O desenvolvimento dos indivíduos é fundamental e eterno. É ele quem provoca inovação, desenvolvimento de culturas, novas formas de fazer as coisas e se relacionar”, afirma Adilseia Batista.
Conflito de gerações
O rápido avanço da tecnologia provocou uma divisão dentro das corporações. De um lado, profissionais experientes tendo que mudar a forma de fazer tarefas que estavam habituados e passando a contar com a ajuda de aparelhos que facilitam a comunicação e otimizam processos.
Do outro, jovens que já nasceram embarcados no mundo digital, cheios de energia e velocidade, os chamados “millenials”. Mas nem tudo são flores. Junto com todo este ímpeto vem a falta de paciência e a dificuldade em compreender certas regras e procedimentos. “É preciso que ele tenha a capacidade de interagir, socializar, uma ideia do todo. Quando você faz parte de um grupo, o trabalho em equipe é fundamental. Se eles não estão integrados, certamente vamos ter um problema”, alerta Gysele.
Surge então um desafio para os gestores: tirar o melhor dos jovens colaboradores. Para Adilseia Batista, o acompanhamento próximo é a melhor solução. “Exige um gasto de energia maior por parte da liderança. Tem que facilitar a adaptação dele, a reflexão da postura, o quanto o comportamento dele impacta nos resultados. E no final encontrar um espaço onde ele vai ter um desenvolvimento e uma maior realização pessoal”.
Tudo isso sem esquecer da experiência que os funcionários mais velhos têm para colaborar com o bom andamento da corporação. “Essa convergência de referências é fundamental. É preciso potencializar isso dentro da empresa, criar um clima organizacional propício pra isso. Assim como o jovem tem uma facilidade imensa nesse aspecto tecnológico, o outro tem todo um repertório, uma construção de conhecimento consolidada com a maturidade profissional. É enriquecedora essa capacidade de compartilhar conhecimento”, enaltece Gysele Rogo.
No alvo
Se o desafio de valorizar o capital humano em meio ao desenvolvimento tecnológico já é difícil para qualquer empresa, imagine em uma empresa de...tecnologia! A GolSat existe há dez anos e atua no ramo de telemetria e gestão de frotas com um time de 130 colaboradores diretos. A média de idade é de 27 anos.
Mergulhada em um ambiente inovador, a empresa tem o foco voltado para as pessoas desde a sua fundação. “Elas são a base de todo o negócio. Pessoas competentes, felizes, trabalhando com propósito. Isso define muito mais sobre o futuro de uma empresa do que uma oscilação de mercado ou qualquer outra questão externa”, aponta o diretor de recursos humanos da GolSat, Carlos Tudisco.
Na hora de contratar novos funcionários, a capacidade técnica obviamente acaba sendo levada em conta, mas há outros fatores do comportamento humano que são considerados essenciais. “Quanto mais conhecimento prático, melhor. Mas buscamos pessoas com senso de pertencimento, responsabilidade com o trabalho, que demonstrem facilidade de relacionamento, empatia”, afirma Tudisco, reforçando que o crescimento da empresa de 30% ao ano está diretamente ligado ao perfil do time de colaboradores. “Tem a ver com a forma que elas reagem ao ambiente que a gente cria. Não contratamos máquinas, mas sim pessoas, que têm seus problemas comuns, com família, relacionamentos. Levamos tudo isso de forma bem humanizada aqui dentro. É um ambiente aberto, sem divisão entre as salas, todo mundo junto. Um lugar onde todos se sentem bem”, conta Tudisco.