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Apesar de o brasileiro estar cada vez mais acostumado com maquininhas, compras online e agora o Pix, o dinheiro em papel continua circulando de mão em mão.
Mesmo na pandemia, apesar da menor circulação de pessoas e consequente baixa no movimento do comércio, a demanda por notas cresceu.
O principal motor disso foi o auxílio emergencial, benefício criado pelo governo federal no ano passado para socorrer famílias de baixa renda na crise provocada pela Covid 19.
A maior procura por dinheiro físico ocorreu nos primeiros meses da pandemia. O BC (Banco Central) chegou a lançar a nova nota de R$ 200 afirmando que ela seria necessária porque, além da demanda provocada pelo auxílio, houve aumento do entesouramento (quando o papel moeda não circula na economia) . Historicamente, em momentos de crise, as pessoas preferem guardar dinheiro.
A nova nota, porém, empacou. Apenas 13% das cédulas entraram em circulação.
Mesmo assim, o volume de dinheiro na rua aumentou. Enquanto em dezembro de 2019 havia 280 bilhões de notas em circulação, ao fim do ano passado havia 370 bilhões de cédulas, segundo o BC.
“O brasileiro ainda tem o hábito de fazer pagamento com dinheiro pela praticidade e porque nem todo mundo tem acesso ao sistema bancário”, diz Francisco Moura Junior, sócio e um dos fundadores do ATM Club.
Para o economista Roberto Dumas, o dinheiro em cédulas tende a ser usado para itens de pequeno valor. Para compras maiores, a tendência é optar por outros meios de pagamento. Ele acredita que o país vai passar por um fenômeno que ele presenciou na China.
“Em 2011, quando saí da China, era comum o pagamento de contas com cartão e dinheiro. Voltei em 2016 e nem cartão, nem dinheiro, o meio mais usado era o celular”, diz.
Já a decoradora Mônica Campregher Camanho, 52, prefere andar com dinheiro em espécie para compras, especialmente as de pequeno valor. Ela diz que o pagamento em papel costuma dar mais agilidade à operação, especialmente se o valor já estiver trocado.
“Mas há dificuldade em pagar com a cédula porque falta troco nos comércios”, afirma. Ela conta que já chegou a desistir de uma compra porque a lojista não tinha troco e sugeriu pagamento em cartão.
“Quando eu trabalhava em lojas, tinha poucos minutos para tomar um café. Na hora de fechar a conta, demorava muito porque querem pagar um café com cartão”, diz.
“Certa vez fui pagar um pastel na feira e começou a demorar porque uma pessoa estava reclamando que a barraca não tinha maquininha de cartão. Achei um absurdo, a pessoa não tinha R$ 7 na carteira para pagar e acha que a culpa é do comerciante?”
A decoradora diz que usa o cartão para valores mais altos. “Nunca passei cartão para compras menores que R$ 20”.
De acordo com a última pesquisa “O Brasileiro e sua Relação com o Dinheiro”, feita pelo Banco Central, 88% das compras de até R$ 10 são pagas com as cédulas. No caso de valores acima de R$ 500, esse percentual cai para 31%.
“Na feira, por exemplo, alguns comerciantes até aceitam pagamento em cartão, mas muita gente prefere usar o dinheiro”, diz Rocha, do Insper, ao lembrar que ele mesmo prefere as notas quando são pequenos valores.
Ainda segundo o BC, dinheiro é o meio mais usado nos pagamentos de serviços autônomos (87,4%), contas de consumo (79,7%), padaria, mercadinho e mercearia (76,5%), aluguel e condomínio (74,4%).
Por outro lado, quando as compras são de maior valor, o percentual diminui, como no caso de supermercado (49,9%), combustível (45,6%) e eletrodoméstico (39,3%).
Também contribui para o uso do dinheiro o fato de o país não ter agências bancárias em cerca de 40% dos municípios brasileiros, o que obriga os moradores a fazer saques esporádicos em cidades vizinhas —como no recebimento de aposentadorias.
Também contribui para o dinheiro continuar circulando na praça, mesmo em uma realidade em que até ambulantes informais têm maquininhas, o fato de que nem todos conseguem acesso a cartões.
“Apesar de o acesso ao cartão ter sido facilitado nos últimos anos, muitos não têm score [nota de crédito do cliente bancário] para ter um, e o dinheiro é a alternativa”, diz Mauricio Guerra, gerente de meios de pagamento da Sicredi Vale do Piquiri Abcd PR/SP.
Embora o pagamento em dinheiro vivo traga o benefício de o lojista não ter que se preocupar com taxas de cartões e já ter o recurso à disposição sem ter que esperar que a operadora do cartão faça a transferência, o risco de assalto é um impeditivo para o uso deste meio de pagamento.
Tanto clientes quanto lojistas sentem insegurança nessa opção de pagamento e especialistas em segurança aconselham evitar o uso das cédulas.