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As empresas que veem a diversidade como parte da estratégia de seus negócios têm mais chances de lucrar acima da média do mercado, segundo levantamento de 2020 da consultoria McKinsey em 15 países, incluindo o Brasil.
Mas as vantagens oferecidas por ambientes mais diversos vão muito além dos resultados financeiros. Não por acaso, pequenos e médios negócios têm apostado em equipes mais heterogêneas para inovar e conquistar novos clientes.
"À medida que as grandes empresas evoluem na agenda [da diversidade e inclusão], passam a ter outras expectativas em relação à sua cadeia de valor e de fornecedores, esperando que aqueles que prestam serviços a elas passem a ter também as mesmas preocupações", afirma Ricardo Sales, sócio-fundador da consultoria Mais Diversidade.
Na iigual, que atua no recrutamento para inclusão e diversidade, a demanda por palestras cresceu mais de 200% durante a pandemia, com empresas apostando no letramento de seus funcionários para lidar no dia a dia com ambientes mais diversos.
O treinamento das equipes foi uma das estratégias adotadas pela agência de publicidade AlmapBBDO para promover inclusão. "As pessoas, muitas vezes, não sabem como lidar com um ambiente mais diverso, então temos esse ponto fundamental a ser trabalhado da porta para dentro", diz Filipe Bartholomeu, 40, diretor-executivo da agência.
O diagnóstico de que a diversidade era um dos desafios do negócio veio depois de um censo interno mostrar que a composição dos funcionários não espelhava a realidade da população brasileira.
Após um ano de trabalho, a equipe passou a ser formada por 54% de mulheres, 23% de pessoas negras e 18% de profissionais LGBTQIA+, sendo que seis funcionários se identificam como transgênero.
Segundo o executivo, os times mais diversos já geram receitas duas a três vezes maiores do que aqueles formadas por grupos homogêneos.
Para Andrea Schwarz, fundadora da iigual, que já ajudou a incluir pelo menos 20 mil profissionais com deficiências no mercado de trabalho, muitas pequenas e médias empresas ainda esbarram na ideia de que temas como a diversidade e a inclusão são apenas para as grandes.
"Vários empreendedores pensam ‘sou pequeno, não preciso ter diversidade’, mas diversos somos todos nós. Diversidade é quando temos um lugar na mesa, e inclusão é quando temos a oportunidade de falar. Pertencimento é quando somos ouvidos, e essa escuta não é responsabilidade apenas das grandes companhias", afirma.
De acordo com números do Sebrae, os pequenos e médios negócios respondem por 90% das empresas brasileiras e por mais de 50% dos postos de trabalho do país.
Ambientes mais diversos são também os mais propícios à inovação, avaliam os especialistas. "A gente sabe que uma organização atenta a essas questões vai ter capacidade mais ampla de leitura da sociedade e, portanto, de se antecipar a demandas, identificar desafios e novas oportunidades", afirma Sales, da Mais Diversidade.
Para ele, outra vantagem está no envolvimento dos funcionários. "As pessoas que se sentem bem no ambiente de trabalho são as mesmas que têm engajamento maior. Além, é claro, dos benefícios de imagem e reputação em um momento em que sustentabilidade, diversidade e inclusão são buscados por consumidores e colaboradores."
A barreira para encontrar colocação profissional foi o motor para a administradora Júlia Macedo, 27, fundar uma padaria de fermentação natural em Florianópolis. "Eu procurava emprego e ouvia que padaria é um trabalho muito físico, que eu não conseguiria carregar as sacas. Não é que eu quisesse abrir um negócio com mulheres, eu só queria que tivéssemos a oportunidade de ter mulheres padeiras também", afirma.
Em 2015, depois de ser desconsiderada para diversas vagas, ela abriu a Pão à Mão na capital catarinense, um negócio que atualmente emprega 14 mulheres e tem faturamento mensal médio de R$ 160 mil.
Para Andrea Schwarz, as pequenas e médias empresas têm o potencial de transformar de ponta a ponta suas cadeias produtivas. "Se começarmos a impor que os imóveis precisam ter acessibilidade para pessoas com deficiência, por exemplo, podemos impactar todo o mercado da construção civil", afirma.
"As PMEs [pequenas e médias empresas] não têm como fugir dessa pauta porque as empresas do futuro são inclusivas, os líderes do futuro são inclusivos", completa.
As empresas que desejam ser mais diversas devem ter ações concretas nessa direção, recomendam os especialistas. "A inclusão tem que ser intencional. Se eu quero aumentar a representatividade de um determinado grupo na minha empresa, eu preciso ir ativamente atrás dessas pessoas", diz Sales.
Adotar estratégias de comunicação que mostram o posicionamento da empresa em relação à diversidade é outra ferramenta para os empreendedores. "Quando uma empresa passa a ser identificada como uma organização aliada desses assuntos, aumenta a capacidade de atrair colaboradores com o perfil que ela deseja", afirma.
Nos processos seletivos, Schwarz recomenda que as companhias façam anúncios mais inclusivos das oportunidades de trabalho. "Se na oferta de vaga eu uso sempre o gênero masculino ou delimito uma determinada vaga para pessoas com deficiência, eu já não sou inclusivo. Do anúncio à contratação e em toda a jornada de carreira, tudo tem que ser inclusivo e transversal dentro da empresa", avalia.
"Diversidade é um dos assuntos da moda, mas não é nenhum modismo. Essa é uma discussão que vem ganhando consistência nas empresas brasileiras", afirma Sales.