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A pandemia do novo coronavírus tirou o fôlego financeiro das empresas. E não poderia ser diferente diante da combinação de vendas em queda e custos em alta.
É neste cenário que o aluguel de equipamentos e tecnologia, modalidade muito utilizada nos Estados Unidos, ganha mais força no varejo brasileiro.
Redes de Supermercados, farmácias e restaurantes são, neste momento, os mais entusiasmados com a locação de equipamentos para renovação de lojas ou expansão.
Em vez de comprometer parte do capital ou recorrer a bancos para buscar financiamento, empresas alugam o que precisam e pagam pelo uso por mês.
“Os supermercados enfrentaram queda de frequência, mas algumas redes precisam expandir e estão fazendo isso por meio de aluguel de equipamentos”, afirma Bernardo Abecasis, diretor da Gaap, empresa especializada em locação de bens.
Freezers, geladeiras, prateleiras, equipamentos para câmeras de segurança, tudo o que um supermercado precisa para operar, diz ele, consta da lista de locação.
No caso de restaurantes, mesas, cadeiras, material de cozinha e até talheres, copos e pratos podem ser alugados.
A rede de fast-food KFC que, recentemente, abriu a sua centésima loja no shopping Market Place, em São Paulo, está expandindo por meio de locação de mobília e artigos de cozinha, de acordo com Élcio Bertelli, gerente da Gaap.
As redes Taco Bell, inspirada pela culinária mexicana, e Frango Assado, também estão considerando o crescimento por meio do aluguel de equipamentos e tecnologia.
Outros exemplos, de acordo com a Gaap, são a Drogaria Globo, do Nordeste, e o Super Nosso, de Minas Gerais.
Diferentemente do empresariado norte-americano, o brasileiro ainda tem forte a cultura de posse, de compra de equipamentos na hora de fazer um investimento.
Aos poucos, e também por pura necessidade, a locação tem crescido como forma de renovação e expansão para evitar o uso de parte ou de todo o capital.
“Às vezes, o empresário não possui os recursos que precisa ou não quer se endividar. Com a locação, ele troca o endividamento por custo operacional”, diz Bertelli.
CRÉDITO FISCAL
A locação, de acordo com Abecasis, também é mais ágil, evitando todo o processo para a obtenção de crédito, por exemplo, em uma instituição financeira.
E quem opta por locação, diz ele, tem benefício fiscal, crédito de PIS e Cofins e redução de Imposto de Renda (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
As empresas que fazem a locação de bens são intermediárias entre quem compra e quem vende os equipamentos e ganham com os juros cobrados no financiamento.
“A negociação é entre o cliente e o fornecedor. A nossa empresa paga à vista para o fornecedor e o cliente nos paga em parcelas mensais”, afirma Bruno Muchatte, diretor da Aventis Rental, especializada em aluguel de bens e leasing.
De acordo com ele, a procura por locação cresceu significativamente com a pandemia. No setor de varejo, os supermercados e as farmácias se destacam.
O varejo no Brasil, diz ele, não está acostumado a crescer por meio de locação, já que a cultura de posse, de compra do bem, ainda é muito forte no mundo empresarial.
“Mas, começamos a ver uma quebra deste paradigma, já que faz mais sentido para uma empresa usar um computador, não adquirir um”, diz Muchatte.
TENDÊNCIA
A opção pelo aluguel de equipamentos é uma tendência que tem a ver com a própria evolução da tecnologia, de acordo com Gustavo Carrer, gerente de novos negócios da Gunnebo, empresa especializada em soluções de tecnologia para o varejo.
“Uma empresa faz um investimento pesado em tecnologia que, em quatro ou cinco anos, fica obsoleta, e tem novamente de ser renovada. Isso é interminável. Com a locação, atualiza os equipamentos quando precisa e fica sempre atualizada”, afirma.
De acordo com Carrer, este é um modelo adotado há anos nos Estados Unidos e na Europa e passou a ser mais viável no Brasil com a queda das taxas de juros.
Afinal, essa operação de locação funciona como um financiamento indireto.
Para Carrer, transformar investimentos em despesas operacionais (OPEX), com a locação de bens, é recomendado quando:
- Apenas a disponibilidade do bem é suficiente, ou seja, a posse não constitui diferencial competitivo relevante;
- A tecnologia intrínseca se torna obsoleta rapidamente;
- Os ativos exigem disponibilidade permanente e manutenção contínua;
- Existe boa oferta de locação ou leasing operacional dos itens desejados;
- O valor de revenda após a depreciação é muito baixo ou inexistente.
A aquisição definitiva de bens (CAPEX) já se justifica quando:
- A posse do ativo proporciona vantagem competitiva permanente pela exclusividade ou unicidade do bem;
- O ativo possui propriedade intelectual a ser protegida, impedindo a locação por terceiros;
- Agentes financeiros não operam com o tipo de ativo ou o valor da locação é muito elevado.
“Em geral, nos momentos de crise econômica, é preferível ter o dinheiro em caixa em vez de imobilizado em ativos, assim o OPEX tende a ser mais atraente do que o CAPEX”, diz.
O modelo de acesso a bens e tecnologia por meio de locação já está sendo utilizado por redes que precisam somente de computadores e ou manequins.
Ângelo Campos, sócio da MOB, rede especializada em roupas femininas, já recorreu, por exemplo, ao aluguel de araras por um prazo curto, de 30 dias.
“Pensei em me informar mais sobre essa modalidade de locação, no caso de equipamentos para leitura de código de barras e impressoras”, afirma ele.
Apesar de ter pouca experiência com este mercado, Campos diz que pode ser interessante o aluguel de bens, mas tudo depende de preço e manutenção.
Hoje, além de impressoras mais sofisticadas, ele loca máquinas de café para as lojas.
FAZER CONTA
Consultores de varejo alertam que a locação é de uma opção para as lojas, mas o empresário precisa sempre fazer conta para ver se a prestação cabe no orçamento.
Um sistema que monitora a passagem de produtos pelo caixa no valor de R$ 146 mil foi locado pela Aventis Rental para uma rede de supermercado por 60 parcelas de R$ 3.742.
Dessa parcela de R$ 3.742, tem uma redução de R$ 935 de IRPJ, de R$ 336 de CSLL, de R$ 61 de PIS e de R$ 284 de Cofins, valores que somam R$ 1.618.
“É preciso fazer conta, pois este não é um modelo que serve para todo mundo. A margem do varejo alimentar é baixa e, se aumentar demais as despesas, a empresa pode não conseguir pagar as contas”, diz Sandro Benelli, consultor de varejo.
Para ele, que trabalhou na direção de várias redes de supermercados, a locação parece mais interessante para equipamentos de tecnologia, isto é, sistema de proteção eletrônica de mercadorias, câmeras de monitoramento e equipamentos de informática.
As operações de locação são desenhadas caso a caso, dependendo da demanda de cada cliente, de acordo com as empresas.
Geralmente, os prazos do contrato são de 36, 48 e 60 meses.
“A decisão entre comprar ou alugar deve estar alinhada com a estratégia de longo prazo do negócio e realizada sempre avaliando e comparando as opções”, diz Carrer.