Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho,
analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo. Ao
utilizar este site, você concorda com o uso de cookies.
Para maiores informações acerca do tratamento de dados pessoais,
acesse nossa Política de Privacidade.
Investir em uma empresa já em funcionamento pode ser uma boa ideia para quem quer começar a empreender ou expandir seus negócios durante a crise causada pelo novo coronavírus.
A seu favor, o comprador tem um momento propício para negociações e a possibilidade de começar a operar com rapidez. Mas, para dar certo, é preciso estar atento aos riscos envolvidos no processo.
Com a chegada da pandemia, a empresária Flávia Rodrigues, 45, dona da Projjeta Design, loja de móveis em Janaúba, norte de Minas Gerais, intensificou a troca de informações com colegas na busca por saídas para a crise.
Nas conversas, conheceu um empresário, de Montes Claros, cidade vizinha, que estava desmotivado com o reflexo da pandemia em sua loja de móveis. “Ele quis vender o negócio e começamos a conversar”, diz Flávia.
A empresária percebeu que a compra seria uma oportunidade de expandir para um mercado maior com agilidade, para atender a demanda de consumidores que estão equipando a casa na quarentena.
“Não queria perder tempo desenvolvendo uma pesquisa de mercado do zero. Já comecei com um espaço montado, com uma área de showroom que me atende e estacionamento”, diz a empresária.
No fim da negociação, ficou decidido que Flávia compraria o estoque e toda a estrutura da loja e que o antigo proprietário encerraria as atividades da empresa.
Ela preferiu nomear a nova loja também como Projjeta Design, com o objetivo que sua marca ganhasse mais força no mercado.
Na crise, venda de patrimônio —apenas do ponto físico, mobiliário e estoque, sem incluir a marca— pode ser mais frequente para pequenas empresas, diz Enio Pinto, gerente de atendimento do Sebrae.
“Nem sempre o pequeno negócio tem uma marca capaz de motivar vendas. Por exemplo, uma padaria de bairro, que atende pela proximidade. É um bom negócio para o comprador, que não assume responsabilidade legal e herda uma carteira de clientes.”
No caso do negócio feito por Flávia, a dificuldade da antiga loja de móveis de se comunicar com o cliente na pandemia e a falta de afinidade com meios digitais são razões que motivaram a transação.
Mapear as causas que levam uma empresa a ser vendida é importante para entender se trata-se de uma boa compra, lembra Enio Pinto, do Sebrae.
Com o susto da crise, muitos empresários que não têm perfil empreendedor podem querer deixar o mercado, por exemplo. Mas existem questões mais sensíveis, como falta de segurança do ponto, mudança nos hábitos do público-alvo e falta de esforços na transformação digital.
“Toda empresa existe para resolver um problema. Agora, o comprador precisa se perguntar se o problema para o qual aquele negócio foi criado está de pé”, afirma.
Além disso, empresários que acumularam problemas de fluxo de caixa também podem encontrar na venda uma forma de obter renda ou de não criar dívidas, diz David Kallás, professor do Insper.
O empreendedor Caio Bana, 39, dono de uma empresa de cursos de segurança do trabalho que leva seu nome, no interior de São Paulo, comprou uma startup de educação a distância por quase a metade do valor proposto inicialmente. A razão, diz ele, é o negócio ter ficado sem receita durante a pandemia.
A ideia de Caio ao efetuar a compra foi conseguir digitalizar cursos como o de brigada de incêndio, diminuindo o deslocamento de instrutores. As aulas serão gravadas no meio de agosto, e a plataforma deve entrar em operação no fim do mês.
Comprar uma empresa com atividade complementar à sua tem vantagens como melhorar a eficiência de custos e aumentar a linha de produtos ofertados para os mesmos clientes, afirma Kallás.
“Se eu tenho uma fábrica de produtos de limpeza e compro outra de vassouras, posso enviar um representante para vender as duas coisas no mercado”, diz.
Para garantir a segurança do processo de compra, Caio contou com ajuda de seu departamento de contabilidade e fez buscas relacionadas a questões fiscais e trabalhistas —completadas com pesquisas de informações e contatos da empresa no Linkedin.
Antes de fechar negócio, o empreendedor pode combinar um estágio de uma ou duas semanas na companhia que deseja comprar, diz Enio Pinto.
A ideia é checar se informações sobre clientes e faturamento, por exemplo, podem ser comprovadas.
“É fundamental fazer reuniões com fornecedores, contador e gerente do banco da empresa para saber se ela está saudável. Isso deve ser feito com anuência de quem está vendendo”, diz Enio Pinto. Também é possível contratar consultorias especializadas nessas operações.
A compra de um negócio corre o risco de não dar certo por razões fiscais e trabalhistas, explica Renato Franco, fundador da Íntegra Associados, que presta consultoria financeira e estratégica.
“Pode aparecer uma ação trabalhista de um ex-funcionário. Quando você compra um negócio, herda dívidas trabalhistas e fiscais”, afirma.
Outra fonte de problemas pode ser a incompatibilidade de culturas de trabalho.
“O empresário deve prestar atenção a quais traços quer perpetuar. Não funciona impor um jeito de trabalho que a empresa não consegue assumir. É preciso entender os traços culturais do negócio. Companhias de todos os portes se beneficiam disso”, diz.