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A maioria (72,8%) das empresas do comércio varejista declarou sentir dificuldades em obter acesso aos fornecedores de insumos, matérias primas ou mercadorias na segunda quinzena de agosto, mesmo após cinco meses de pandemia e com a flexibilização do distanciamento social.
O número caiu com relação aos 15 dias anteriores (78,5%), mas ainda segue o mais alto entre todos os segmentos de atuação no país.
Os dados fazem parte da Pesquisa Pulso Empresa, que acompanha os principais efeitos da pandemia de Covid-19 na atividade das empresas não financeiras, parte das estatísticas experimentais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O comércio é o ramo de atividade que encontra mais dificuldades na obtenção de mercadorias. Em todo o setor, contando também atacado (53,6%) e veículos (42,2%), a percepção fica em 66,7% das empresas.
A dificuldade é bem superior ao declarado pelos ramos da indústria (51,8%), construção (40,6%) e serviços (26%). Por outro lado, o setor de comércio foi o que mais apresentou empresas apontando facilidades (10,5%) para achar os insumos.
Na média, 46,8% das empresas apontam dificuldade no acesso aos fornecedores, e apenas 7,3% disseram o contrário. As demais 44,2% não observaram alteração significativa.
Flávio Magheli, coordenador do IBGE, apontou que a pesquisa em um primeiro momento percebeu impactos negativos relacionados à demanda, como vendas, produção e atendimento, devido ao fechamento das lojas e ao isolamento social promovido em todo o país para conter o avanço da Covid-19. Depois, a percepção mudou.
"Em um segundo momento, o que passou a prevalecer foram os pontos relacionados à oferta e à cadeia de suprimentos, devido às dificuldades de acessar fornecedores", disse Magheli.
O comércio varejista também é o segmento onde as empresas declararam sentir mais dificuldade na capacidade de realizar pagamentos de rotina: mais da metade (54,7%) afirmaram ter problemas. O número está bem acima da média do país (40,3%).
O varejo é o ramo com mais empresas em funcionamento no país, com 1,084 milhão, quase 1 a cada 3 das que estão em atividade (3,4 milhões). Dessas, 44,7% tiveram dificuldade na fabricação dos produtos ou na capacidade de atender aos clientes, mais uma vez a maior marca entre todos os segmentos.
Outras 35,7% das empresas do comércio varejista ainda reportaram ter sentido diminuição nas vendas ou serviços especializados.
De acordo com o IBGE, caiu para 33,5% a quantidade de empresas que percebem impactos negativos da pandemia nos negócios. Nos 15 dias anteriores, eram 38,6% com essa sensação entre as 3,4 milhões em operação no Brasil.
A melhora na percepção atingiu todos os setores. A maioria (52,6%) das empresas de maior porte sinalizou maior incidência de efeitos pequenos ou inexistentes na quinzena do que impactos negativos.
Segundo o coordenador do IBGE, a flexibilização do distanciamento social fez com que as empresas passassem a perceber cada vez menos impactos negativos da pandemia, mas que isso varia de acordo com cada local.
“Os municípios tiveram ações diferenciadas e, apesar de avançarem no movimento de abertura, muitos ainda operam com controles e restrições de horário ou capacidade”, disse Magheli.
As empresas que informaram maior incidência de efeitos negativos na segunda quinzena de agosto são do ramo de construção (40%), seguido pelo comércio (36%).
Já na na indústria, 40,3% reportaram impactos pequenos ou inexistentes, assim como nos serviços, com 43,2%.
De acordo com o coordenador do IBGE, do ponto de vista setorial, no início da pesquisa, havia uma incidência forte de dificuldades na indústria, na construção, nos serviços e principalmente no comércio, devido à grande dependência dos pequenos comércios em relação às lojas físicas. E que algumas ainda veem o cenário difícil.
"Ao longo desses três meses, ocorreu uma retomada gradual, mas no final de agosto 33,5% das empresas ainda sinalizam algum grau de dificuldade”, afirmou Magheli.