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Comerciantes são os que mais pedem socorro aos bancos

Fonte: Diário do Comércio
14/05/2021
Comércio

O arrastão financeiro vivido pelas empresas em meio à pandemia do novo coronavírus provocou uma corrida de empresários às instituições financeiras em busca de crédito.

E quem mais demandou dinheiro dos bancos foram os comerciantes. Em dezembro de 2020, o saldo das operações de crédito do comércio somou R$ 380,58 bilhões.

Este valor representou um aumento de 30,7% em relação a dezembro de 2019.

Os dados são do Banco Central (BC) e foram levantados por Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

No mesmo período, o saldo das operações de crédito no setor de serviços subiu 26,5%, no agroindustrial, 23,6% e, no industrial, 18,1%. No geral, a alta foi de 21,8%.

Dados de março deste ano também revelam a necessidade de empréstimos do setor comercial. O saldo das operações de crédito do comércio era 29,6% maior do que o de março de 2020.

No caso da indústria, 12,6% maior, dos serviços, 23% maior, e do setor agropecuário, 28,3% maior, no período.

“Como já era de se imaginar, as empresas estão demandando mais recursos para viabilizar as suas operações, e não para investir”, afirma Bentes.

De acordo com ele, o dinheiro que as empresas de todos os setores pegaram para capital de giro mais do que dobrou no período de um ano.

O aumento da procura por dinheiro para pagamento em até um ano foi de 119% quando comparado os valores de dezembro de 2019 e de 2020.

No caso das operações acima de um ano, isto é, dinheiro mais utilizado para pagamento em prazos mais longos, a alta foi de 41%.

“Esses números revelam que as empresas, de uma forma geral, estão precisando mais de dinheiro para manter as suas operações no dia a dia”, diz Bentes.

No caso das micro e pequenas empresas, a situação financeira é ainda mais complicada, de acordo com relatos de empresários feitos ao Sebrae SP.

Levantamento do Sebrae revela que, em abril deste ano, 49% dos pequenos negócios correram atrás de crédito em instituições financeiras no país. Em abril de 2020, 30%.

No ano passado, de cada cem empresas que foram aos bancos, somente 11 conseguiram pegar dinheiro. Neste ano, este número aumentou para 39.

No caso dos pequenos empresários, com faturamento até R$ 4,8 milhões por ano, muitos não conseguem os recursos por pura falta de planejamento.

“Também não conseguem empréstimos porque não atingem as pontuações dos bancos, estão negativados ou não possuem documentação”, diz Lúcia Amélia Gomes, consultora do Sebrae SP.

No último ano, diz ela, os recursos que entram no caixa das empresas são basicamente para resolver dívidas em atraso e manter o negócio funcionando.

“Não dá para afirmar que todos os pequenos empresários estão endividados, mas dá para dizer que a pandemia impactou de alguma forma todos eles”, diz Amélia Gomes.

Despesas em alta

Rafael Borges de Souza, proprietário da rede Fascar, especializada em sapatos masculinos, conseguiu crédito de R$ 3 milhões em 2020 para enfrentar a pandemia.

“As despesas não param de subir, e o movimento caiu uns 40%. Peguei o dinheiro para tocar o negócio, não seria louco de pegar para investir”, diz.

De acordo com o empresário, ele só conseguiu os recursos porque deu um imóvel como garantia e era correntista do banco há décadas.

Com 20 lojas, a rede viu o faturamento anual cair pela metade com a pandemia, de R$ 50 milhões para R$ 25 milhões.

Sem sucesso nas negociações com administradoras de shoppings, o empresário deve fechar umas quatro lojas nos próximos meses.

William Sukarie, proprietário da Cia Ypslon, rede de roupas masculinas, conta que há um ano colocou um imóvel como garantia para renegociar dívidas com um banco.

“Agora tenho de pagar prestação todo o mês para não perder o imóvel”, diz.

De acordo com ele, a empresa não deve mais recorrer a bancos e está em processo de corte de custos e fechamento de lojas para dar continuidade ao negócio.

“A hora que eu quitar as dívidas eu mudo de ramo. Caíram muito as vendas, que não devem retomar. Metade da nossa clientela, que vinha de fora, não viaja mais.”

Mãos abanando

Tito Bessa, presidente da Ablos, associação de lojistas de shoppings, diz que a maioria dos lojistas que recorre hoje aos bancos sai das agências com as mãos abanando.

“O fato é que os bancos só emprestam dinheiro para quem não precisa. Veja quanto o grupo Soma conseguiu de dinheiro para comprar a Hering”, diz ele.

O negócio, concluído no final do mês passado, foi avaliado em R$ 5,1 bilhões.

“Se um banco liberasse R$ 2 bilhões para um grupo de pequenos comerciantes, imagina quantos negócios poderiam ser salvos nesta pandemia”, afirma Bessa.

Um dado do BC revela, de acordo com o economista da CNC, a dificuldade das empresas de honrar seus compromissos de curto prazo.

É o atraso no pagamento de empréstimos para capital de giro rotativo, que podem ser pagos em até 180 dias.

Em março do ano passado, o atraso no caso dessa modalidade equivalia a 2,2% da carteira de crédito. Em março deste ano correspondia a 4,1%.

“A situação é preocupante. Os empresários deverão carregar dívidas por um bom tempo, comprometendo a capacidade de investimento das empresas no longo prazo”, diz Bentes.

Juros mais altos

A consultora do Sebrae lembra que os empresários devem ficar atentos sempre às taxas de juros na hora de buscar crédito em instituições financeiras.

O Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), quando surgiu, concedia taxas de juros baseada na Selic mais 1,25% ao ano.

“Só que a Selic subiu para 3,5% ao ano. Se o dinheiro do Pronampe saísse agora, já custaria 4,75% ao ano”, diz ela.

Na hora do aperto financeiro, diz Amélia Gomes, crédito nunca deve ser a primeira opção do empresário.

“Antes de recorrer ao financiamento, o empresário precisa cortar custos, entender as necessidades dos clientes, quebrar paradigmas, se reinventar, pensar no delivery.”

Assim como o consumidor, que precisa ter a certeza de que a prestação da compra financiada de uma geladeira cabe no orçamento, o empresário precisa fazer conta.

Na hora de entrar em um financiamento, diz ela, tem de ter a certeza de que vai poder pagar uma prestação todo o mês.

“Crédito é igual a remédio, dependendo da dose te cura ou te mata.”

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