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O comércio varejista caiu 3,9% em outubro em relação ao mesmo período de 2020, mostra indicador IGet, elaborado pelo Santander em parceria com a Getnet. Em relação ao mês imediatamente anterior, contudo, houve alta de 1,9% após dois resultados negativos, em setembro e agosto.
"A alta de outubro não evita uma contração acumulada em três meses. Esperamos um modesto desempenho do varejo no restante do ano, refletindo a normalização do padrão de consumo das famílias, deslocando os gastos em direção aos serviços à medida que a mobilidade retorne à 'normalidade'", ressaltou a pesquisa.
Na comparação anual, apenas peças automotivas, artigos farmacêuticos e outros tiveram alta, de 15,2%, 2,5% e 10,1%, respectivamente. Livros tiveram a maior queda, com 32,3%, móveis e eletrônicos retraíram 23,3% e vestuário, 11,1%. Supermercados recuaram 5,8%, e material para escritório, 5,9%.
Em relação a outubro de 2020, material de construção teve queda de 6,3%.
"Até o restante do ano, [o setor de] serviços deve puxar a retomada. A cesta de consumos das famílias mudou, com aumento de gastos com serviços, o que já era esperado porque com a restrição da mobilidade o segmento caiu muito. Além disso, temos agora a pressão inflacionária e problemas na cadeia produtiva, que também impactam o consumo de bens", explica o economista do Santander Lucas Maynard.
Serviços, no entanto, seguem em recuperação lenta. Segundo o indicador, o segmento, um dos mais impactados pela pandemia de Covid-19, cresceu 0,9% em relação ao mesmo período de 2020 e 2% em relação a setembro, puxado por alojamento e alimentação.
Outros serviços, que englobam lazer e turismo, por exemplo, caíram 4,5% na comparação anual e 2,9% na mensal.
O setor ainda está 21,3% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 26,5% abaixo da média de 2019. "Serviços devem voltar aos poucos, mas vemos uma recuperação sequencial com a mobilidade próxima à normalidade", diz Maynard.
Para o economista, segmentos como lazer, turismo e serviços culturais ainda não apresentaram recuperação integral.
Segundo Maynard, a piora das condições financeiras da população começa a se refletir no desempenho dos setores da economia.
Nas últimas semanas, analistas e instituições financeiras revisaram para baixo as expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2022. O boletim Focus desta semana, em que o Banco Central divulga projeções do mercado, veio pela primeira vez com previsão abaixo de 1%.
Os economistas consultados pelo BC esperam crescimento de 0,93%. Há uma semana, a projeção era 1%, e há quatro semanas, 1,50%. Algumas casas de análise já trabalham com PIB negativo para 2022.
As expectativas pioraram especialmente após a manobra do governo para driblar o teto de gastos, regra que limita o aumento das despesas públicas.
No fim de outubro, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) e aliados no Congresso Nacional inseriram na PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios —dívidas da União reconhecidas pela Justiça— uma mudança na regra de correção do teto de gastos.
Na prática, a medida expande o limite das despesas federais com o objetivo principal de financiar, em ano eleitoral, o novo programa social do governo, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família —uma marca de gestões petistas.
O movimento foi mal recebido pelo mercado, que passou a prever indicadores piores para o próximo ano também para inflação e para as contas públicas.
"Ainda não temos uma previsão negativa [para o PIB] porque acreditamos que fatores como a melhora no mercado de trabalho, aumento da mobilidade e a recuperação de serviços devem permanecer no próximo ano", diz Maynard.
O indicador leva em conta as transações feitas por meio das maquininhas da Getnet no país. Ao todo, o indicador de varejo abrange 150 mil estabelecimentos e o de serviços, 73 mil.
A empresa tem participação de 16% no mercado de pagamentos presenciais de 33% no ecommerce.