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O avanço da variante Ômicron e o aumento de casos de influenza já afetam a operação da aviação, do varejo, dos serviços e da indústria.
O afastamento dos trabalhadores para evitar a disseminação do contágio afetou escalas de voo, chão de fábrica e atendimento nas lojas. Isso levou a uma onda de cancelamento de viagens, pagamento de horas extras para suprir a demanda diante da escassez de funcionários, remanejamento de profissionais e volta ao home office nos escritórios.
Para a economia, é má notícia, já que setores mais dependentes de atividades presenciais tinham expectativa de recuperação mais vigorosa este ano. O setor de turismo viu uma escalada no cancelamento de reservas para o carnaval desde que as prefeituras começaram a cancelar a festa diante do aumento de casos.
A maior parte das pessoas infectadas apresenta sintomas leves, mas a variante é mais contagiosa.
No setor aéreo, que começava a dar sinais de alívio com retomada de voos, estima-se que mais de 500 tenham sido cancelados ou remarcados desde quinta-feira. Levantamento feito com as companhias aéreas indica que ao menos 646 voos serão cancelados de domingo até o fim da semana diante do aumento de diagnósticos de Covid e influenza entre pilotos e comissários.
Contratações de emergência
O varejo está em alerta e tem lançado mão de uma série de medidas para evitar o fechamento de portas em um começo de ano no qual se espera retomada de atividades durante o verão.
O aumento de casos de Covid-19 e de influenza levou empresários a rever a escala de funcionários, fazer contratações emergenciais e até pagar transporte particular para evitar a contaminação de colaboradores.
Com o desfalque nas equipes, a Ablos, associação que reúne mais de cem membros e que representa lojistas satélites, pretende levar um pedido aos shoppings para que os horários de abertura sejam reduzidos por algumas semanas. A ideia é que o tempo menor de funcionamento ajude a lidar com a falta de funcionários. A associação vai checar, ao longo da semana, o aumento do número de atestados entre os funcionários por Covid-19 e influenza.
Sem regra única
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) disse em nota que a saúde das pessoas vem em primeiro lugar e, por isso, o setor investiu em iniciativas sanitárias e segue as orientações das autoridades competentes. Sobre os novos casos de Covid e influenza, a Abrasce disse que hoje “há cenários divergentes entre os mais de cem mil lojistas e 600 shoppings no país, o que requer um olhar único para cada caso pontual, e não uma regra generalizada.”
A Ótica Lunetterie, com seis filiais no Rio de Janeiro, decidiu aumentar o protocolo de segurança para evitar fechar alguma de suas lojas. No caso da unidade no Shopping da Gávea, onde três dos cinco vendedores estão de licença médica, a saída foi pagar hora extra aos trabalhadores saudáveis, aumentar a testagem e fazer realocação de equipes.
— Se tem alguma suspeita, o funcionário é afastado e é feito teste de Covid. A ideia é criar um ambiente seguro de vendas. A economia não suporta mais ficar um dia sem vender. Esta semana será decisiva para entender o que vai a acontecer adiante — disse Diana Reis, sócia-fundadora da rede.
A força-tarefa inclui ainda pagamento de transporte particular para os funcionários não ficarem expostos ao transporte público.
— Se precisar, vou para a venda. O último fim de semana, mesmo com tempo chuvoso, foi de vendas fracas. O problema é o consumidor ficar com medo e segurar os gastos.
Mas nem todos estão conseguindo margem para deslocar funcionários. Em Copacabana, o restaurante Lamen Hood decidiu fechar sua loja física após uma das atendentes estar com suspeita de Covid-19.
— Decidi começar a semana só com delivery. Já anunciamos nas redes sociais. O empreendedor não tem um segundo de descanso — disse Renata Monteiro, proprietária do restaurante.
Na Bac Collection, no Casa Shopping, Patrícia Amêndola teve a funcionária responsável pela limpeza afastada com Covid. A saída foi contratar outra pessoa.
— É um custo a mais, mas é o ideal para não ter que fechar. Vejo muitas lojas funcionando com menos funcionários. Os que ficam estão dobrando — disse Patrícia.
Segundo Rodolpho Tobler, professor do Ibre, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o temor de fechamento é um dos fatores que podem afetar o desempenho da economia e reduzir a criação de postos de trabalho.
— Já estamos vendo alguns cancelamentos de eventos no carnaval. Então, já temos setores afetados, como os de eventos e turismo. A incerteza pode afetar outras áreas: restaurantes e varejo como um todo, pois há muitos funcionários afastados. Isso pode trazer mais lentidão ao processo de recuperação — explicou Tobler, lembrando que a expectativa é de crescimento de 0,7% no PIB este ano.
Aumento de casos impacta indústria
A indústria também começa a sentir os efeitos do aumento de casos de Covid-19 e de influenza. Nas montadoras de veículos do país, não foram registradas paralisações nas linhas de produção por causa da alta de casos das duas doenças, como ocorreu em 2020.
Desde dezembro, no entanto, com o surto de gripe, cresceu o número de faltas, segundo informa a Anfavea, associação que representa as montadoras.
O absenteísmo cresceu primeiro no Rio de Janeiro e depois se espalhou para os demais estados. As montadoras que já estavam voltando ao trabalho presencial, na parte administrativa, estão retomando o home office. Só devem ficar no presencial o chão de fábrica e serviços considerados essenciais.
Exposição no transporte
Ainda segundo a Anfavea, as montadoras reforçaram as medidas sanitárias que vinham sendo adotadas desde 2020, como distanciamento em refeitórios e linhas de produção, além de reforçar a limpeza de vestuários e maquinário.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, disse que a maioria das fábricas do setor têxtil está voltando agora das férias coletivas, mas algumas empresas estavam operando e registraram casos.
Ele avalia que certamente a indústria têxtil será afetada pelo aumento dos casos de gripe e Covid-19, mesmo com todos os protocolos, já que as pessoas utilizam transporte público para chegar ao trabalho.
Em áreas em que é possível, será preservado o trabalho em home office para evitar o crescimento do número de infectados.
— Nunca houve um volta plena ao presencial. O home office veio para ficar, não integralmente, mas de forma híbrida — afirmou Pimentel.
Vivien Suruagy, presidente da Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra), afirma que houve um aumento exponencial nas últimas três semanas de cinco vezes nos casos de Covid e influenza nos trabalhadores do setor.
— A estimativa é de crescimento de casos — disse ela.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que não tem levantamento sobre paralisações da produção por conta de aumento de casos das duas doenças.