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O julgamento do Recurso Extraordinário – RE 1.307.334 no Supremo Tribunal Federal – STF, que discute a constitucionalidade da penhora de bem de família do fiador em contrato de locação comercial, foi suspenso na sessão dessa quinta-feira (12). Até o momento, quatro ministros consideram que não há impedimento para a penhora, enquanto outros quatro entendem que a possibilidade viola o direito à moradia.
O autor do recurso contesta decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – TJSP que manteve a penhora de seu imóvel, único bem de família, para quitação do aluguel de um imóvel comercial do qual era fiador. A defesa do homem alega que o direito à moradia deve se sobrepor ao processo executório de um aluguel comercial, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da proteção à família e o direito à moradia.
Para o relator, ministro Alexandre de Moraes, a possibilidade de penhora do bem não viola o direito à moradia do fiador, que exerce seu direito à propriedade ao oferecer seu imóvel como garantia contratual de livre e espontânea vontade, com plena consciência dos riscos decorrentes de eventual inadimplência. Ele entende que impor essa restrição representaria uma afronta, também, aos princípios da boa-fé objetiva e ao da livre iniciativa.
Segundo o ministro, a Lei 8.009/1990, que trata da impenhorabilidade do bem de família, excepciona o instituto da fiança sem fazer distinção entre a garantia dada à locação comercial ou à residencial. O magistrado ressaltou que a constitucionalidade desse dispositivo já foi examinada pelo Supremo, que, no RE 407.668, manteve sua validade, mesmo após a promulgação da Emenda Constitucional 26/2000, que incluiu o direito à moradia entre os direitos sociais protegidos pela Constituição Federal.
Para Alexandre de Moraes, a criação, por decisão judicial, de uma distinção entre os fiadores de locação residencial, em que se admite a penhora, e comercial ofende o princípio da isonomia. Em seu voto, o ministro ressaltou que a impenhorabilidade do bem do fiador no contrato de locação comercial seria um desestímulo aos pequenos empreendedores, pois, segundo documentos anexados aos autos, mais de 90% dos fiadores são pessoas físicas que entram como fiadores de sua própria empresa (pessoa jurídica) para não recorrerem a formas mais gravosas de fiança e evitarem a descapitalização. Os ministros Nunes Marques, Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli acompanharam o entendimento.
Direito à moradia
Ao abrir divergência, o ministro Edson Fachin destacou que considera impenhorável o bem de família dado em fiança de aluguel comercial. Segundo ele, excluir a proteção da moradia do fiador significaria restringir direitos sociais fundamentais e esvaziaria o direito à moradia, que, em seu entendimento, deve prevalecer sobre os princípios da autonomia contratual e da livre iniciativa, “que podem ser resguardados por outros mecanismos menos gravosos”.
Para a ministra Rosa Weber, que acompanhou o voto, o eventual desestímulo à livre iniciativa decorrente da impenhorabilidade não é suficiente para suplantar o direito constitucional à moradia, que, na sua avaliação, é um desdobramento de dois outros direitos constitucionais: o dignidade da pessoa humana e o da proteção à família.
A ministra pontuou que a imposição de limites à penhora de certos bens é uma “conquista civilizatória”, com o objetivo de assegurar o mínimo existencial. Admitir a penhora do único bem do fiador em nome da promoção da livre iniciativa resultaria na fragilização das normas editadas com o objetivo de preservar a dignidade humana em favor da execução de dívidas. Essa corrente é integrada, também, pela ministra Cármen Lúcia e pelo ministro Ricardo Lewandowski.