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O governo federal publicou, nesta segunda-feira (23), a medida provisória 927, com mudanças trabalhistas para o período de calamidade pública decorrente da pandemia do coronavírus.
Alguns itens foram fortemente criticados por especialistas e parlamentares, como o artigo 18, que permitia corte de jornada sem que o patrão fosse obrigado a pagar o salário.
Com isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou que vai revogar este artigo.
Tire as principais dúvidas MP 927
1) É verdade que poderei ter o salário cortado com a medida provisória do presidente Bolsonaro?
Inicialmente, a MP 927, publicada nesta segunda-feira (23) pelo governo federal, previa que os trabalhadores poderiam ter seus contratos de trabalho suspensos por até quatro meses, sem que houvesse o pagamento de salário. No entanto, o artigo 18, que trata sobre a questão, foi revogado pelo presidente Jair Bolsonaro. Agora, o governo estuda permitir corte de até 67% do salário, para atividades mais atingidas pelo coronavírus, e de até 50% para os demais trabalhadores
2) Do que trata exatamente a medida provisória 927?
O texto define as ações das empresas mediante a crise do coronavírus, já que estamos em estado de calamidade pública, conforme o decreto 6, de 20 de março de 2020. Dentre os pontos definidos estão:
- Corte de salários e jornada (artigo que foi revogado e deve ser redefinido)
- Regras para o trabalho em home office, chamado de teletrabalho
- Concessão de férias individuais e coletivas
- Antecipação de feriados não religiosos
- Regras do banco de horas e suas compensações
- Pagamento de 8% do FGTS por parte do patrão, que poderá ficar suspenso por até três meses, voltando ao normal depois
- Suspensão de medidas administrativas de segurança do trabalho e possibilidade de definir que o trabalhador faça cursos de qualificação online
3) O que foi decidido sobre o trabalho em home office, chamado de teletrabalho?
Segundo a medida provisória, o patrão poderá alterar o regime de trabalho presencial para o teletrabalho, que é o trabalho remoto ou a distância, sem a necessidade de acordos individuais ou coletivos. Além disso, o patrão também é quem define o dia exato de retorno ao trabalho presencial
4) Essas alterações valem para todos?
A medida não define o tipo de trabalhador que poderá ficar em home office, mas acrescenta que estagiários e aprendizes também poderão fazer teletrabalho
5) O patrão vai alterar o meu contrato de trabalho?
Segundo a MP, não é preciso fazer alteração no contrato de trabalho individual informando o home office
6) É preciso ter algum aviso formal de que ficarei em home office?
O trabalhador deverá ser avisado da alteração da rotina de trabalho com, no mínimo, 48 horas de antecedência, por escrito ou por meio eletrônico, como email ou WhatsApp, por exemplo
7) Quem vai pagar os meus gastos com o home office? Uso meu computador ou da empresa?
Essa definição será feita entre patrão e empregado. Segundo a MP, se o trabalhador não tiver os equipamentos tecnológicos e a infraestrutura necessária, o patrão poderá fornecê-los ou pagar pelos gastos necessários, como o uso da internet e do telefone, por exemplo. Mas isso não pode caracterizar salário. Se ninguém tiver os equipamentos, ainda assim, o tempo em teletrabalho será considerado à disposição do patrão, ou seja, o trabalhador precisa atendê-lo a qualquer momento
8) Vai ter algum tipo de acordo escrito sobre os equipamentos?
Segundo a lei, todas as regras sobre os equipamentos, suas manutenções e o fornecimento da tecnologia necessária para o trabalho deverão estar em contrato escrito; o documento pode ser assinado antes ou em até 30 dias depois, contado da data da mudança do regime de trabalho
9) Serei obrigado a tirar férias, mesmo se eu não puder ou não quiser?
Conforme a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), o patrão é quem define sobre as férias do trabalhador, respeitando as regras que constam na própria CLT e na Constituição. No entanto, o que a medida provisória faz é facilitar a decisão sobre a data em que o trabalhador sairá em férias e flexibilizar a obrigatoriedade de comunicação. Neste caso, o empregador deve informar o empregado com, no mínimo, 48 horas de antecedência sobre as férias. Além disso, as férias poderão ser concedidas mesmo que o empregado não tenha completado o tempo mínimo para o período aquisitivo. Também será possível patrão e empregado negociarem a antecipação de períodos futuros de férias, por acordo individual escrito
10) Como fica o pagamento das férias? Será normal?
Hoje, o patrão paga 1/3 quando o empregado sai de férias. Pela MP, o adicional de 1/3 poderá ser pago depois das férias, até a data-limite para pagar a gratificação natalina (13º salário), que é até 20 de dezembro
11) Todo mundo pode ser colocado em férias?
Sim, mas a lei diz que a os trabalhadores do grupo de risco do coronavírus terão prioridade para as férias, sejam elas individuais ou coletivas. Já no caso dos profissionais da saúde ou que exerçam funções essenciais o patrão poderá suspender as férias ou as licenças não remuneradas
12) É verdade que as férias coletivas poderão ser definidas sem avisar o sindicato?
Sim. Conforme a MP, o patrão poderá conceder férias coletivas sem a necessidade de comunicar antes o Ministério da Economia ou o sindicato da categoria. Além disso, os funcionários deverão ser avisados com, no mínimo, 48 horas de antecedência
13) Como vai funcionar a antecipação dos feriados?
Segundo a lei, os patrões poderão antecipar os feriados que não sejam religiosos. A regra vale para feriados federais, estaduais, distritais e municipais. O descanso nestas datas antecipadas poderá ser compensado com o saldo em banco de horas. No entanto, esse aproveitamento de feriados dependerá de acordo entre patrão e empregado. Esse acordo terá que ser individual e por escrito
15) O banco de horas dos trabalhadores poderá mudar?
O banco de horas poderá ser implantado ou modificado para regime especial de compensação da jornada. As definições poderão ser por acordo individual ou coletivo, mas é preciso que seja feito formalmente. A compensação será no prazo de até 18 meses, a partir da data do fim do estado de calamidade pública
16) Os trabalhadores ficarão sem o pagamento do FGTS?
Não. O direito ao depósito de 8% do salário em conta do FGTS do trabalhador não muda. O que ocorre é que a MP suspende temporariamente o pagamento das competências de março, abril e maio de 2020. O pagamento será feito em atraso, mas sem multas e encargos. A lei diz que esses valores poderão ser quitados em até seis parcelas mensais, com vencimento no 7º dia de cada mês, a partir de julho de 2020
17) Como ficam os benefícios do trabalhador, como vale-alimentação e plano de saúde?
Apesar de não ter sido especificado na MP, o advogado Maurício Pepe De Lion, do Felsberg Advogados, explica que vale-refeição, vale-alimentação e plano de saúde devem continuar sendo concedidos, na integralidade, mesmo se houver redução de jornada. Segundo ele, o artigo 468 da CLT fala da inalteração de benefícios em prejuízo do funcionário, mesmo em caso de redução de jornada. A exceção é para quem está em férias
18) Como fica o vale-transporte de quem está em home office?
O patrão pode deixar de conceder o benefício, tendo em vista que não há deslocamento. Não há necessidade de acordo coletivo para fazer essa suspensão
19) Os exames de demissão e admissão foram suspensos?
A lei suspendeu a obrigatoriedade de realização dos exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais por até 60 dias. No entanto, o exame demissional poderá ser dispensado caso o exame médico ocupacional mais recente tenha sido realizado há menos de 180 dias
20) O trabalhador da saúde poderá te a jornada prorrogada?
Sim, durante o de estado de calamidade pública, hospitais e clínicas poderão prorrogar a jornada de trabalho e adotar escalas de horas suplementares, mas é preciso garantir o descanso semanal remunerado. A medida será definida por acordo individual ou coletivo